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« Previous Page Table of Contents Next Page »Cultural Migration in Autobiography Grundtvig Partnerships 2009-2011
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Não se escrevem autobiografias em vão
Maria Antonieta Costa
A imigração temporária ou permanente é um fenómeno espontâneo que carateriza a vida da Humanidade. No caso de Portugal, o processo tem sido constante desde os primórdios da nossa História, com a fixação no nosso território de diversos povos: muçulmanos, ciganos, judeus e indígenas. Atualmente, entre as comunidades de imigrantes em solo português destacam-se os brasileiros, os caboverdianos, os angolanos, os ucranianos, os romenos e os asiáticos. E falo-vos deste fenómeno, porque foi a sua grande importância no nosso país que me levou, em 2009, a aceitar a proposta que me foi dirigida pelo colega alemão Dr. Reinhard Nowak, Diretor da Gmünder Volkshochschule, para colaborar num interessante projeto Grundtvig denominado Cultural Migration in Autobiography, cujo objetivo era reunir autobiografias de estudantes e/imigrantes.
Convencer os formandos a narrar episódios das suas vidas foi a tarefa mais difícil de concretizar. Uns, valorizavam-se tão pouco que pensavam que não havia nada que valesse realmente a pena ser contado. Outros, não queriam tornar públicos factos dolorosos, controversos ou lamentáveis, ressuscitando mágoas há muito aprisionadas em algum canto do seu coração sofredor. Outros ainda diziam não saber escrever. Apesar dos obstáculos, foi possível reunir um pequeno grupo de escritores que, com a minha ajuda, lá iam recordando ténues fragmentos de tempo: imagens, cheiros, sons e cores de um passado que, afinal, não estava assim tão longe, tão esquecido. O resultado destas penosas evocações passou a ter forma, concretizando-se, gradualmente, sobre algumas folhas de papel, permitindo aos participantes refletir em momentos diversos das suas vidas, os quais, voluntariamente ou por imposição, habitavam o reino do esquecimento de cada um. Custou transformar as imagens em palavras, as palavras em frases. Neste processo de introspeção, o meu papel de auxiliar de memória e de corretora de textos, fez de mim uma privilegiada ao participar dessa aventura que é deixar as origens, família, amigos e irromper por comunidades estranhas, onde todos falam uma Língua desconhecida. Para além das soluções que a imigração possa ter trazido a estas pessoas, todas as histórias falam sobretudo de cortes. E alguns desses golpes foram tão violentos que provocaram na vítima a sensação de uma plena amputação física, deixando feridas que ainda hoje sangram!
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