Page 98 - Microsoft Word - CMA BOOK_2

This is a SEO version of Microsoft Word - CMA BOOK_2. Click here to view full version

« Previous Page Table of Contents Next Page »

Cultural Migration in Autobiography Grundtvig Partnerships 2009-2011

This project has been funded with support from the European Commission. This publication reflects the views only of the author, and the Commission cannot be held responsible for any use which may be made of the information contained therein.

e-mail: kszia@komesnet.com.pl http://cma.internetdsl.pl

98

Viver longe de casa - "Deus aperta, mas não enforca" Laurinda Silva

Puerto Cumarebo, Venezuela, 1983. Marcou-me muito chegar a um país desconhecido, sem conhecer ninguém, sem saber falar a mesma língua e, mais ainda, ver como viviam. Crianças e adultos andavam semi-nús, calçando chinelos. A maioria vivia em casas muito feias, feitas de blocos e folhas de chapa, mas muito limpas.

De manhã, depois do meu marido sair para o trabalho, dirigia-me à praia e deleitava-me a observar os pescadores artesanais. Via chegar todos aqueles frágeis barcos de madeira, movidos com a força de um minúsculo motor. Muita gente animada os esperava no cais para comprar o pescado. Como a carne era cara, recorriam ao peixe para a alimentação diária. Todos os dias aprendia com eles, a vê-los, a estudar a maneira como procediam. Os habitantes daquelas regiões marítimas fazem uns rissóis muito grandes com farinha de milho a que chamam «empanadas», alimento típico do pequeno-almoço. As mães confeccionavam-nas e as crianças acorriam à praia para as vender, levando dinheiro para casa. Ao princípio, eu olhava curiosa as velhas panelas de alumínio ou as gastas arcas de esferovite para manterem as «empanadas» quentinhas, desconhecendo o que era aquilo. Os pequenos vendedores rivalizavam para serem os primeiros a abeirarem-se dos barcos que aportavam! Para mim, pareciam um bando de malandros, mal vestidos e desgrenhados. Mas com o tempo fui-me habituando e percebi que não eram o que eu pensava. Eram apenas pobres crianças que, pelo pouco que tinham, se mostravam sempre felizes.

Ainda tenho na memória os cheiros daquele peixe, das «empanadas», daquele bando alvoroçado, daquele inesquecível mar do Caribe.

Page 98 - Microsoft Word - CMA BOOK_2

This is a SEO version of Microsoft Word - CMA BOOK_2. Click here to view full version

« Previous Page Table of Contents Next Page »